terça-feira, 23 de outubro de 2012

São Jorge: O Santo Ecumênico


Aproveitando que acabou o "oi oi oi" e começou a novela "Salve Jorge", achei interessante compartilhar com vocês algumas curiosidades acerca desde santo oriental, que teve grande influência na Palestina, e matou o dragão, conforme a tradição nos conta. (Eu sinceramente fico imaginando São Jorge golpeando um fóssil de tiranossauro rex para a alegria do povo local, mas isso pode ofender as crenças alheias ---> ops!)

Tanta gente fala de São Jorge, ele é falado até por quem não curte o santo, como foi a tentativa de boicote à novela recém lançada (pode ver sacanagem com Carminha e Max, mas não pode ver novela com nome de santo!haha). No Rio, São Jorge tem feriado, é padroeiro do flamengo, é chamado nas orações para combater os inimigos, e pouca gente lembra que ele é lá do "outro mundo", aquele mundo que o povo só enxerga como de terroristas e de mulheres oprimidas.

Ah sim, ele é da Capadócia, é Turquia, país europeu!rá. Sinceramente, como ouvi da excelente pesquisadora Monique Sochaczewski Goldfeld, um país repressor e com intensa perseguição à imprensa é a Turquia. Não se enganem pelas aparências. Mas deixando pra lá esse conversê com cara de fofoca marrom, na época de São Jorge aquela região não se definia com uma identidade turca, quiçá europeia, sem contar que apesar de ter nascido ali, foi criado na Palestina, tendo ido na idade adulta à Nicoméia, quando se tornou capitão do exército romano. A sua história como mártir cristão iniciou-se quando em uma assembleia na Suprema Corte Romana, defendeu os cristãos da ideia do Imperador Diocleciano de exterminá-los, assim como se declarou cristão. Por tal ousadia, foi torturado, mas jamais renegou a fé em Jesus Cristo. Existem outras lendas em torno de São Jorge, incluindo-o como um galante cavaleiro que salva uma princesa muçulmana de um dragão (daria um filme, não?).

Tendo vivido no início do séc. IV, e numa região que viria a ser habitada por judeus, cristãos e muçulmanos, a figura de São Jorge transcendeu a sua humanidade e religião, vindo a ser venerado também por judeus na figura mítica de Elias, e pelos muçulmanos, na figura mítica de Khidr. A associação com Khidr, "o homem verde" é citado no Alcorão como um homem sábio e o mais reto servo de Deus (há outras interpretações para o Khidr), no caso de São Jorge dizem que a associação provém de seu cavalo, pois os cavalos cinzas em árabe são chamados de "verdes", e para os muçulmanos que o veneram - em geral sufis e xiitas das regiões da Turquia, Síria e Palestina - ele é o santo que cura as pessoas loucas, restaurando-lhes a razão. Segundo conta o pesquisador William Dalrymple, em Belém, na Palestina, existia um santuário que recebia romarias de cristãos, muçulmanos e judeus, sendo lá considerado tanto o local de nascimento de São Jorge quanto o túmulo de Elias, e todos rezaram juntos, levando também consigo doentes para serem tratados de suas loucuras.

No Oriente, o dia de São Jorge é 6 de Maio, e ele é conhecido desde a época do Império Turco Otomano sob o nome de Hidrellez, uma corruptela de Al-Khidr. Segundo a tradição islâmica, o martírio de São Jorge teria sido retratado através do martírio de Jirjis, personagem mítico que aparece em folclores palestinos, como podem ver aqui.

Aqui no Brasil também temos a associação de São Jorge a Ogum, orixá das religiões africanas, e é um santo de grande empatia por muitas classes. Não é à toa, portanto, que a novela tenha apelado a ele para resguardar sua história. Ainda que na Turquia mais de 96% da população seja muçulmana e não cristã (não sei se a novela retratará isso), a figura de São Jorge não está excluída de sua identidade cultural.



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