segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Personalidades Históricas: Princesa Wallada


Se você acredita que o auge do feminismo veio nos anos 20 com Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Anaïs Nin, pode começar a mudar seus conceitos quando ouvir falar das mulheres influentes de Córdoba, na época islâmica!

Brincadeiras à parte, pois não quero pecar pelo anacronismo, algumas mulheres detiveram de esplêndida liberdade social e até sexual, numa época em que os homens permaneciam como cabeças e senhores de sua sociedade. Estas mulheres tiveram papel de grande importância sobretudo para a cultura aristocrata local, e uma destas mulheres foi  a princesa Wallada Bint al-Mustakfi.

Do séc. XI, mesma época do meu amadíssimo Ibn Hazm (falarei dele em breve), Wallada era da família de Beni-Omíadas, filha de um dos últimos califas omíadas, era famosa por seus versos e seus amores, em especial com o poeta Ibn Zaydun. Loira de olhos azuis, como todos os califas cordobeses, e um ideal de beleza na época, resplandecia não somente em beleza, mas em inteligência, sendo quase que um enigma para os homens que a conheciam. Foi uma das mais importantes literatas da época. Após a morte de seu pai, pelo mesmo não ter descendência masculina, Wallada herdou seus bens aos 17 anos, e passou a abrigar em seu palácio jovens moças dispostas a aprender a arte da poesia, do canto e também do amor. As jovens iam desde nobres a escravas. Além de rica, Wallada foi a mais escandalosa das mulheres, dispensava o véu, como muitas outras, e bordava em seus vestidos seus versos.

Com Ibn Zaydun, poeta mais atraente e refinado na época (um Ian Somerhalder da época, haha), Wallada desfrutou de um grande e apaixonante amor, rodeado de ciúmes, cartas e versos. Por fim, Wallada rompeu com o amante após ele a ter traído com sua escrava e foi viver com o vizir Ibn Abdus, deixando Ibn Zaydun transtornado. Este, com raiva e magoado, passou a trocar farpas e acusações em versos com ela, vindo a perder sua fortuna, ser preso e por fim exilado (dizem que Wallada que fez isso com ele, de vingança!).


Aqui temos uma canção feita pelos versos do poema "Desenganos e Reprovações" da princesa:



A letra - escrachada -  da música:
Certamente Ibn Zaydun, apesar de seu prestígio,
Estava a soar por entre as barras das calças.
Se visse um pênis em uma palmeira
Ele seria a ave mais rápida.

Certamente Ibn Zaydun, apesar de seu prestígio,
Injustamente calunia a mim, sem eu ter qualquer culpa.
Sempre que me aproximo dele, ele me olha com ressentimento,
como se eu tivesse castrado 'Ali.



Briguinhas de casal à parte, que se seguiram após o rompimento, Ibn Zaydun e Wallada, parece que nunca se deixaram de amar. Ele, em seu exílio, passou a vagar pelas ruas entoando juras de amor a ela, escrevendo nesta época seus mais famosos poemas. A princesa, mesmo envolvida com outro homem, também lhe respondeu em versos, quando estes chegaram até ela. Seguem alguns poemas da dela:

"Quando no centro de minha alma
Te falo de amor, vida minha
O coração se destroça
Das lembranças desta vida.
Aqui ausente choro por ti
Minhas noites passam sombrias,
Porque nunca tua beleza
Com tua luz as ilumina.
Eis que de ti me afastaram
Então eu não temia:
Hoje julgo ver-te de novo
Doce e sonhada mentira."

"Desde que deixei de ver-te,
As forças me abandonaram,
Descobri o mistério
Que só a ti havia confiado.
Vão moer meus dentes,
Se me intimido e me abato,
Não tento o impossível
Para viver ao teu lado.
Quisera Deus ver novamente
Possa eu teu soberano
Rosto, belo como a lua,
Claro como as estrelas.
Ora, em minhas escuras noites,
Lamento-me, recordando
As brilhantes que contigo
E tão rápidas passaram."

Ainda que aparentemente amasse Ibn Zaydun, Wallada permaneceu até o fim da vida com o vizir, seu protetor. Alguns seriados e filmes foram realizados para retratar a vida da aristocracia cordobesa na época do Califado, aqui temos um trecho representando a princesa e seu amado poeta:


Sinceramente eu detesto essa atriz, a acho forçada, parece que não tá sentindo as falas, só repetindo e levantando a sobrancelha.

Aqui uma poesia de Wallada recitada em árabe e com tradução em português:

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